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Sexta-feira, 07 Novembro 2014

Estivemos à conversa com Cláudia Rego, que depois de uma carreira muito interessante enquanto jogadora, optou pela arbitragem. Atualmente com 31 anos e residente em Barcelos, iniciou-se na arbitragem há 4 anos, passando um ano na categoria do Regional, estando atualmente na Categoria do Nacional B.
Plurisports (PLR): Quais as principais razões que a levaram a ser árbitra?
Cláudia Rego (Cláudia): Foram 2 razões que levaram a vestir a camisola de árbitra. Enquanto atleta sempre admirei o Árbitro Internacional Rego Lamela, para mim era um ídolo, pois sempre reuniu as características de um grande árbitro, quer técnicas quer pessoais, o que me levou a despertar o gosto pela arbitragem. Outra razão foi tentar perceber algumas decisões tomadas pelos árbitros.
Um dia fui desafiada pelo Sr. Delfim Mendes, secretário do CRA Minho, para tirar o curso de arbitragem. Inicialmente encarei como uma experiência, um desafio para poder perceber melhor os árbitros, e algumas decisões tomadas por eles nos meus jogos, mas com o decorrer do curso os árbitros do Minho influenciaram e ajudaram-me a apostar na arbitragem a 100% e abdicar de outras funções na modalidade.
PLR: Tendo em conta o papel do árbitro no jogo, como peça fundamental e indispensável ao mesmo, acha que os árbitros deveriam ser tratados de outra forma?
Cláudia: Todos os intervenientes de jogo deveriam perceber que os árbitros são pessoas normais, tem vida própria, tem responsabilidades fora das quatro linhas, não diferentes deles. Os árbitros devem merecer o respeito de todos, até por se tratar de uma função extremamente ingrata e difícil, na qual estamos sujeitos a muita pressão e temos frações de segundos para decidir um lance. É certo que no final dos jogos, ao fazermos uma análise cuidada, algumas vezes concluímos que erramos e poderíamos ter decidido de outra forma. Erros acontecem mas acredito que não sejam premeditados, e estes poderão ser cada vez menos, se o árbitro fizer um bom trabalho de casa diário. Não concordar não significa desrespeitar. Como ex atleta, tenho consciência que não sabia as regras ao pormenor e muitas vezes discordei com os árbitros por falta de conhecimento. Sem dúvida, que é mais fácil ser jogadora ou até opinar fora das quatro linhas, porque a margem de erro é maior. Desta forma, entendo que contestem e não aceitem as decisões dos árbitros, não entendo que insultem um árbitro. Mas é esta a nossa missão!
PLR: Quais os momentos positivos mais marcantes da carreira?
Cláudia: Um dos momentos mais marcantes na minha curta carreira como arbitra, foi o jogo entre CART e o HC Fão, em que o jogo determinava a subida à 2 divisão de uma das equipas. O pavilhão estava lotado, foi um excelente jogo de hóquei, um verdadeiro hino à modalidade, em que as duas equipas e adeptos mostraram que o hóquei está bem vivo em Portugal.
PLR: Quais os momentos menos positivos?
Cláudia: Não tenho nenhum momento relevante. Sinto-me triste com o meu trabalho quando não consigo dar o meu melhor, e sinto que podia ter analisado de outra maneira algum lance. São marcas que ficam, mas temos de ultrapassar os jogos menos bons e trabalhar para que esse erro ou analise menos correta não volte a acontecer.
PLR: Quais objetivos a curto/médio prazo?
Cláudia: Gostaria de subir ao quadro A. Se algum dia isso acontecer ficarei muito contente, mas com a consciência que a responsabilidade e a exigência serão maiores. No entanto, se esse objetivo não for conseguido, vou continuar a trabalhar para que esse dia chegue, e que um dia consiga ganhar o meu espaço na arbitragem, trabalhando sempre com a mesma atitude e dedicação. Neste momento, preocupo me em aprender cada vez mais, cimentando os meus conhecimentos e tirar o melhor proveito da modalidade.
PLR: Esteve recentemente na EurockeySub15 e Sub17. O que acha deste tipo de iniciativas, tanto para os praticantes, como para quem apita os jogos?
Cláudia: O Eurockey é um torneio extremamente bem organizado, com uma boa organização, simpática e sempre disponível, onde fazemos e reencontramos amigos, em que se compete em termos desportivos, mas sempre com o espirito de confraternizar. Estão de parabéns os que organizam, os voluntários, e todos que nele participaram. Um exemplo a seguir. São quatro dias intensos, de grandes emoções, onde se respira e vive se o hóquei com muita paixão, na qual participam as melhores equipas europeias referentes ao ano transato à competição, com jogos a decorrerem em dois pavilhões ao mesmo tempo. É uma experiência única para todos os intervenientes do jogo, quer jogadores, diretores, treinadores, pais, árbitros, público e imprensa. Este tipo de eventos permite nos crescer enquanto amantes da modalidade, onde intercâmbio é valorizado. Todos saem a ganhar com este tipo de iniciativas.
Para os atletas é um excelente palco para se mostrarem e crescerem enquanto jogadores, permite reforçarem o espírito de grupo e confraternizarem com jogadores, árbitros e demais intervenientes de outros países.
Para mim, o Eurockey tem uma mística especial, que me convenceu desde o primeiro dia, é extremamente competitivo que nos exige um nível elevado de concentração. O ambiente vivido nos pavilhões diariamente é excelente. Permite nos dar a conhecer enquanto árbitros e pessoas que somos. Pessoalmente, conheci outras realidades a nível de arbitragem, outros árbitros e trocar ideias sobre as atuais regras e como estas são interpretadas de país para país.
PLR: Tendo já sido jogadora de hóquei, o que a levou a desistir e enveredar pela arbitragem?
Cláudia: A vida é feita de decisões e escolhas, e quem me conhece verdadeiramente sabe que o Hóquei em Patins é a minha paixão e esta foi sem dúvida a decisão mais difícil que tomei. A minha vida pessoal iria mudar, e não podia suportar os custos que a modalidade me estava a trazer, uma vez que morava em Barcelos e o clube mais perto que tinha para praticar a modalidade era na Maia. No entanto, tive o prazer de aprender e jogar com e contra as melhores atletas, tal como ser treinada por bons treinadores...recordo o passado com grande saudade mas também com o sentimento de dever cumprido. Mais de que as medalhas ganhas ficam as amizades que fiz no hóquei.
Arbitrar é um prazer na qual me dedico e trabalho no sentido de fazer mais e melhor. A camaradagem, o gosto pela modalidade, a responsabilidade e o sentido de justiça são a base para me manter na arbitragem...tudo isto é o que me faz fazer parte de um jogo mesmo não jogando, e me faz matar a saudade enquanto jogadora mas nunca colmatando a sensação de festejar um golo ou um campeonato ganho.
PLR: Que mensagem deixa a todos os intervenientes do Hóquei em Patins?
Cláudia: Todos sentimos o hóquei a correr nas veias, sentimos orgulho nos nossos melhores atletas masculinos e femininos e dos brilhantes resultados alcançados a nível internacional pela nossa seleção mas muitas vezes esquecemo-nos dos títulos que continuamos a ganhar. O melhor Hóquei é praticado em Portugal...engane-se quem pensa que o Hóquei em Portugal está a morrer aos poucos. Está vivo e bem vivo! Espelho disso são os títulos ganhos pelas nossas seleções, pavilhões cheios, somos o país onde a imprensa dá mais relevância ao Hóquei, mesmo ainda sendo pouca, os jogos transmitidos são cada vez mais, e as audiências estão sempre em alta...afinal estamos vivos e bem vivos! Deixo uma palavra de união a todos os intervenientes e que continuemos a encher pavilhões e a fazer do Hóquei em Patins a modalidade de eleição de todos os portugueses.
Um obrigado à Plurisports pelo excelente trabalho desenvolvido pela nossa modalidade.